Union, o lado mais genuíno de Berlim
O clube da floresta esteve perto de desaparecer para sempre quando um muro se levantou para dividir Berlim. A sua história é uma verdadeira saga de sobrevivência contra toda a lógica.
Em 1961 as autoridades soviéticas que controlavam o território da Alemanha Oriental entregue após os despojos da II Guerra Mundial decidiram estancar a hemorragia de cidadãos que encontravam forma de escapar para o lado ocidental da antiga capital do país. Durante meses a separação de arame farpado deu lugar a um muro que marcaria a segunda metade do século XX. Esse bloco de cimento que cercou o lado ocidental da cidade e o isolou de forma definitiva do resto da República Federal, marcou um antes e um depois no dia a dia da cidade e na vida dos cidadãos da República Democrática, um país ficticio forjado pelos interesses geopolíticos dos soviéticos. E o futebol, como sempre, foi apanhado nesse jogo de poder. No caso distópico de Berlim a situação foi ainda mais extrema e quase custou para sempre a existência do modesto Union FC.
A guerra fria tinha dado inicio ao processo de dissolução do Union Berlim. O clube originalmente tinha sido fundado em 1906, um dos múltiplos a nasceram na capital do império alemão nessa década. Era um modesto clube de barrio desde as suas origens e raramente apareceu em competições nacionais até que em 1933 o novo regime nazi decidiu reorganizar o modelo competitivo nacional. As diferentes Gauligas - torneios regionais - distribuiram os clubes pela sua zona de influência e o Union foi inevitavelmente colocado na Gauliga Berlin-Brandenburg. Durante os anos seguintes o Union jogou tanto na primeira como na segunda divisão da Gauliga, sem nunca realmente fazer-se notar ou lutar pela qualificação ao torneio nacional a eliminar, que se seguia à fase regular de cada uma das Gauligas. Em 1939 o exército alemão invadiu a Polónia, dando inicio à II Guerra Mundial. Meses depois o Union conseguiu o seu maior resultado histórico, vencendo finalmente a Gauliga Berlim-Brandenburg para alcançar a fase a eliminar onde foram superados pelos austriacos do Rapid Wien que, semanas depois, se coroariam como campeões alemães.
Apesar do torneio ter-se disputado nos anos que durou o conflicto, perdeu toda a relevância desportiva e da mesma forma que tinham atingido o seu curto apogeu, o Union voltou a cair no esquecimento. Com a invasão do exército soviético da zona oriental alemã e a subsequente ocupação de Berlim, o clube esteve mesmo perto de desaparecer, como tantos outros. A Alemanha vivia uma profunda crise económica e social e a nova reencarnação do Union apesar de conseguir participar na Oberliga - que ainda era disputada sem uma divisão territorial evidente - nunca conseguiu afirmar-se como uma das grandes forças locais. Foi precisamente quando os dirigentes soviéticos começaram a impedir as equipas da zona oriental de Berlim de medir forças com clubes da zona ocupada pelos Aliados que o futuro do Union esteve em risco.
Muitos dos seus dirigentes, técnicos e jogadores escaparam da zona ocupada pelos soviéticos e fundaram um novo clube, o Union 06 Berlim, na parte ocidental da cidade. Sem futebolistas e apoio, o Union FC -que então competiam como SG Union - esteve muito perto de desaparecer. Até 1966 o clube teve seis designações diferentes e em todas elas esteve perto da dissolução, especialmente quando as autoridades da RDA decidiram institucionalizar o futebol de estado, colocando um número limite de clubes por cidade ou zona geográfica numa liga organizada para potenciar os interesses das grandes figuras do regime, especialmente as ligadas aos serviços secretos (a STASI) ou o exército. Para Berlim o regime decretou que, excepcionalmente, permitiria duas vagas em lugar de uma, uma atribuida ao sindicato ferroviário - o Vorwarts Berlim - e outra para o clube dos serviços secretos, o Dinamo Berlim. Nesse cenário o Union tinha tudo para desaparecer de forma definitiva.
Foi então que entrou em cena o verdadeiro salvadora da instituição e que permitiu a sua sobrevivência nas décadas seguintes. Herbert Wanke era um dos homens fortes do Politburo comunista que controlava os destinos da RDA. Era o presidente do sindicato estatal - o FDGB - e um dos homens com mais peso na estrutura política alemã. Curiosamente, apesar de ter nascido em Hamburgo, tinha vivido na zona oriental da cidade desde meados dos anos 30 e era um fanático adepto do Union. Estava determinado a não deixar morrer o seu clube de infância e mexeu todos os cordelinhos dentro do regime para garantir a sua sobrevivência.
Em 1965 o Union fez finalmente parte, já com esta designação definitiva, dos fundadores da Oberliga da RDA com a designação de clubes dos trabalhadores devido à sua ligação sindical. O clube no entanto não tinha ainda as infra-estruturas necessárias depois de duas décadas muito tremidas e começou a competir na segunda divisão nacional em 1966/67. A sua primeira década de vida no futebol de elite foi marcada por prestações pouco convincentes com a honrosa excepção de ter conquistado a edição de 1967 da Taça da Alemanha Oriental e quando Wanke morreu, em 1975, o clube perdeu igualmente o importante apoio da comunidade sindical. O que manteve o Union vivo foi, ironicamente, a ascensão do Dynamo Berlim, que durante uma década conquistou de forma consecutiva os títulos nacionais.
A cultura de corrupção do regime parecia indicar que todos esses títulos tinham sido combinados previamente devido à poderosa influência da STASI no dia a dia da vida do estado. A ascensão do Dynamo criou imediatamente uma profunda rejeição dos cidadãos berlinenses que quase a modo de oposição política abraçaram o apoio ao Union e fizeram dos derbies da capital um verdadeiro manifesto político que alimentou a fama de clube de culto do Union. Nos anos seguintes criou-se uma série de conceitos mitológicos à volta dos protestos no estádio do clube, o inimitável An der Alten Forestei, que na realidade nunca tiveram lugar. Até à queda do muro de Berlim não houve manifestações políticas evidentes contra o regime comunista. O que houve sim foi um posicionamento silencioso de muitos adeptos de futebol da cidade que, ao mesmo tempo que deixavam vazios os jogos em casa do Dinamo - o campeão europeu durante uma década com pior média de assistência - acorriam em massa para ver a equipa do Union, ainda que esta continuasse a ser muito pouco competitiva, num campeonato onde os verdadeiros rivais do clube da STASI estava em Leipzig, Dresden ou Jena.
A queda do muro, em lugar de catapultar o Union para uma nova etapa, apenas contribuiu para a sua decadência como sucedeu com todas as equipas que disputavam a Oberliga. Foi nesse período que a instituição começou a congregar uma série de adeptos de culto, não muito distante do St. Pauli em Hamburgo, embora menos politizada. Berlim continuou sem ter um grande clube, apesar da ascensão no final dos anos noventa do Hertha, e o futebol na cidade passou a ser apenas um de muitos passatempos possíveis. Para os amantes da cultura mais alternativa, visitar o campo do Union era o equivalente que percorrer os bares que se colocavam agora de novo na moda, ressuscitando a vida cultural da cidade para as novas gerações. Foi dentro dessa dinâmica que o clube encontrou de forma definitiva uma identidade e foi a partir dela que construiu um projecto desportivo que o elevou das catacumbas até à elite do futebol alemão e de aí até às noites europeias.
It is said that fans of 1. FC Union Berlin often chanted "The wall must go!", with a reference to the Berlin Wall, when the opponents formed a wall during free kicks in 1980s. However, some sources suggest that this is partly a myth and exaggerated.[54][55][nb 2] Supporters of Union saw themselves as stubborn and non-conformist. But this image should not be confused with actual resistance.[57] For some supporters of Union, the dissident reputation is a legend that was created after Die Wende.[58] Honorary president of Union Günter Mielis has said: "Union was not a club of resistance fighters, but we had to fight against a lot of political and economic resistance over and over again. We got strength from our fans".[59] Politics was not in the foreground.[13] Most supporters of Union were just normal football supporters.[60] There were no political groups at Union.[55] A supporter of Union from the East German era has said: "With the best of intentions, Union fans did not contribute to the overthrow of the GDR. No way, we were interested in football. There is the cliché about the club for the enemies of the state, but that wasn't us".[61] Supporters of Union from the East German era have testified that the club was the most important thing, and the identification with Union had primarily to do with Köpenick.[62]