Bring me That Horizon
O primeiro livro sobre a história e identidade do futebol português em lingua inglesa sai à venda no próximo dia 29 de Janeiro. Conheçam um pouco mais do que podem encontrar.
O que é o futebol português? O que o define? Qual a sua história, qual a sua relação com a história do país e qual o seu futuro?
Bring Me That Horizon: A Journey to the Soul of Portuguese Football é a resposta a essas perguntas e muitas outras, possivelmente o primeiro livro internacional dedicado ao nosso futebol e uma mistura de road trip presente com um regresso ao passado constante para entender e analisar a origem, natureza e nomes chave que moldaram o jogo em Portugal.
Não é este um livro de história mas viaja pela história regularmente. Não é este um livro de relatos mas conta histórias, umas mais conhecidas que outras. Não é este um livro de viagens mas pelas auto-estradas e estradas nacionais de Minho e Trás-os-Montes ao Algarve, percorre o país para sentir como o jogo é diferente de uma ponta a outra. Não é este um livro de sociologia, política ou economia mas procura-se entender nas mudanças demográficas, sociais e de regimes como o jogo foi reflexo ou espelho dessas metamorfoses. Não é um livro de cultura mas não se deixa de lado o impacto das influências de África e Brasil, de personalidades estrangeiras e também de como os movimentos culturais na música, cinema ou televisão se viram reflectidos no futebol ou dele beberam. Porque o futebol é sempre algo mais que um desporto, um reflexo da sociedade e o que a rodeia, também este livro vive das histórias dentro e fora das quatro linhas.
E, pela primeira vez, longe das longas extenuantes histórias clássicas com o foco numa ordem cronológica ou no excessivo peso dos chamados Três Grandes, este livro oferece uma visão de 360 graus sobre tudo o que se passa no futebol português, desde a elite até ao futebol de base, desde as grandes estrelas internacionais aos atletas desconhecidos ou inventados. De campeões da Europa a vencedores de Distritais.
A obra consta de 14 capítulos, cada qual dedicado a um tema central que vai dando ao livro uma dimensão mais complexa à medida que este vai avançando nas 288 páginas que o compõem.
Após uma breve introdução no capítulo inicial, a porta de entrada é feita através do continente africano no capitulo “Made in Africa”, um espaço para analisar a imensa influência que as antigas colónias tiveram no futebol nacional, desde muito cedo até ao momento de consagração do Europeu de 2016 e que se prolongará no tempo. Um reflexo também de como a rica cultura de imigração em bairros difíceis - sobretudo à volta de Lisboa - não só trouxe cor, magia ao futebol mas também à música e à cultura e como esses movimentos encontraram no jogo e nos palcos os embaixadores para uma nova dimensão social e cultural que une terras que há mais de meio milénio estão presas por um cordão umbilical comúm.
De aí o caminho toma direção sul e centra-se na evolução, apogeu e queda no abismo do futebol na zona da Margem Sul e de Setúbal, outrora um dos grandes baluartes do nosso futebol, no capitulo “Fifty Years of Hurt”. Cerne do primeiro clube-empresa, de uma potência emergente como foi o Vitória FC nos anos sessenta e de jogadores inesquecíveis que nasceram e cresceram nessa zona, de Vitor Baptista até João Cancelo mas hoje a viver o seu pior momento desportiva e socialmente.
Recordando a importância de três jogadores icónicos nascidos na Margem Sul - Fernando Chalana, Paulo Futre e Luis Figo - o seguinte capítulo é dedicado ao Extremo, talvez a posição táctica por excelência do futebol nacional aos olhos do mundo, desde os anos setenta até aos nossos dias. “Supersonic” mistura Britpop, viagens em carrinha pelos cacilheiros e uma forma hedonista de entender o jogo que permitiu a Portugal criar uma cultura de jogadores virtuosos que desde a linha lateral deixaram a sua marca na história.
E sim, um livro sobre o futebol português sem falar dos chamados Grandes não tem sentido mas ao contrário do que é habitual, aqui a história não é contada individualmente mas sim num só capitulo, um espaço onde as suas origens, identidades e ciclos de triunfos, mas também de derrotas, fazem parte de uma realidade mais complexa que demonstra que uns não podem viver sem os outros. No capítulo “Game of Thrones”, fala-se de Grandes mas, sobretudo, fala-se de como os seus periodos de hegemonia se explicam também com o país e o seu momento como nação e como esse dominio absoluto de troféus e adeptos acabou por manchar uma ideia de cultura desportiva que nos afasta de outros países europeus.
Depois de viajar tanto pelo sul e aproveitando a boleia do capitulo anterior, segue-se rumo a norte pelas estradas que unem o Grande Porto com o Minho, onde o futebol português se reencontrou nos anos oitenta e de onde até hoje estabeleceu uma das suas fortalezas, a zona do Vale do Ave. “Factories of Dreams” viaja até essas cidades industriais do têxtil e dos móveis para contar histórias e entender como a mudança da economia portuguesa nesses anos criou pequenas dinastias locais e abriu porta à idade de ouro de muitos clubes que antes eram apenas amadores, para terminar na cidade que melhor representa a cultura do adepto em Portugal, Guimarães.
O capítulo sete não podia ser de outro que Cristiano Ronaldo. Ele é, sem dúvida, o desportista mais mediático e bem sucedido da história, não só do país mas seguramente do continente europeu, e essa saga desde as suas origens humildes aos triunfos é balanceada com uma análise às luzes e sombras da sua carreira em “Superman”.
E já que Ronaldo gosta tanto da cultura brasileira, no seguinte capitulo é hora de dar o salto no Atlântico e entender de que forma um país que durante décadas foi o simbolo máximo do jogo a nível global terminou por colonizar o futebol português - e com as telenovelas, música, moda e gastronomia a sociedade em geral - até ao momento em que se inverteu o movimento e permitiu que fosse hoje Portugal, tal como há mais de quinhentos anos, o colonizador. Da herança de Flavio Costa e Otto Gloria ao papel de Jorge Jesus e Abel Ferreira, passando pelos jogadores que cruzaram o oceano, ao som de Tropicalismo, frases míticas de telenovelas e um sabor a avaí, “Colonization” explora a complexa realidade entre povos e culturas irmãos.
Aterrados de novo em Portugal é hora de voltar à estrada, do sul ao norte, seguindo a famosa estrada Nacional 2 que nos permite conhecer a realidade do jogo em sitios tão diferentes mas a viver experiências de isolamento tão similares como o Algarve e Trás-os-Montes, sem esquecer o Alentejo ou as Beiras. “Route EN2” é a porta para um país que muitos ignoram, outros esqueceram mas que tem riquissimas histórias do nosso futebol - com direito a um peculiar desvio de avião pelas ilhas atlânticas - e também ajuda a entender como somos como nação futebolistica ainda hoje.
Da estrada passamos para o banco, neste caso, de suplentes. O capítulo dez é uma ode a todos os homens que marcaram a história do nosso futebol desde a posição de treinadores, fossem eles estrangeiros que chegaram a Portugal para ensinar o que de melhor se fazia lá fora, fossem eles treinadores locais que resgataram o orgulho identitário do treinador nacional ou fossem eles especiais o suficiente para ensinar ao mundo de volta. “Mister” leva-nos entre Special Ones, agentes do MI5, homens de boné e nomes que nunca poderemos esquecer.
E do banco também veio o inicio de outra revolução mas essa começou até nas universidades antes de chegar ao relvado. Porque se houve um momento de antes e depois do futebol português esse foi o protagonizado pelos campeões do Mundo de Riade e Lisboa. “New Kids on the Block” segue a visão de um homem - Carlos Queiroz - e o talento de uma geração que só se juntou devido ao trabalho feroz e revolucionário de uma equipa técnica sem meios para dar forma à inesquecível “Geração de Ouro” do nosso futebol. Um grupo de nomes que devolveu o amor próprio ao futebol português, revolucionou a forma como os clubes olhavam para a formação e transformou a emigração para os maiores clubes do mundo numa aspiração natural para os grandes cracks nacionais.
Num país dominado por três clubes não é fácil encontrar histórias de final feliz noutras paragens mas elas ainda existem. Em “Fairy Tales” viajamos aos títulos nacionais de Boavista e Belenenses e à campanha europeia do Braga, bem como as historias e momentos altos e baixos de cada um dos três clubes, para entender quem realmente fez méritos para ser considerado o quarto grande. Ou será que é realmente necessário escolher?
Até porque há sempre o outro lado da moeda. Se no capítulo doze se vivem histórias de alegria, o capitulo treze é um tratado de sobrevivência e obstinação de clubes históricos que se recusam a morrer e fazem do associativismo e da sua herança histórica a plataforma ideal para olhar para o futuro. Em “Alive and Kicking”, viajamos desde o momento presente do Salgueiros ao passado glorioso da Académica e Casa Pia, sem esquecer histórias como as do Estrela da Amadora, União de Leiria ou Beira-Mar, de modo a entender que há muitos clubes em Portugal que, por um motivo ou outro, estão longe do seu melhor momento mas que ainda assim continuam a ser símbolos de resistência.
E para finalizar, inevitavelmente, voltamos ao inicio. O Euro 2016 foi o coroar de uma história que já é centenária, a da seleção nacional e o capitulo final “The Agony and the Ecstasy” leva-nos por esses momentos icónicos - bons e maus - da equipa das Quinas, dos desastres de Saltillo e Coreia aos contos de fadas em Inglaterra e França, passando pelas derrotas dramáticas e dolorosas em 2000, 2004 e 2006 e a consagração definitiva de um país com o golo solitário de Éder.
Bring Me That Horizon é mais que um livro de futebol. É um livro sobre todos nós, portugueses. Um livro sobre todos os clubes, todos os jogadores, todos os treinadores, todas as cidades e distritos, todos os pratos, vinhos, praias, músicas, filmes e livros. É um livro com vida própria porque existe a cada kilómetro de estrada feito e cada referência a uma memória colectiva. É também o primeiro livro sobre o nosso futebol como um todo que cruza a fronteira e se dá a conhecer ao mundo. É um livro vosso.
Desfrutem da leitura. Sai a 29 de Janeiro.
Para a compra do livro - que fisicamente não estará à venda em Portugal - recomendamos optar pela Amazon Espanha. O tempo de entrega pode ser maior mas o risco de ficar retido entre taxas alfandegárias à conta do Brexit é reduzido, ao contrário de comprar directamente na Amazon.Uk ou na própria editora. Para mais informações podem seguir a conta oficial do livro na rede social Twitter/X @BringHorizon24.